Acabo de concluir a leitura do maravilhoso livro Autobiografia de uma pulga, que ganhei de presente da editora Tipos Móveis (empresa pioneira no ramo editorial, idealizada por Camila Kintzel, profissional que, como eu, tem um pé na Análise do Discurso).
A leitura é fascinante e excitante, capaz de prender o bom leitor até o final. Toda a história é repleta de práticas sexuais variadas, que são originalmente narradas da perspectiva de uma pulga. Perspectiva interessante, pois permite ao autor detalhar os fatos de uma forma bastante diferente e minuciosa.
Em sua magnífica narração, a pulga, que no livro demonstra ter talentos e capacidades humanas como as do “pensamento e observação”, irá descrever as cenas da qual foi testemunha, iniciando o seu percurso erótico ao se “infiltrar” na saia de uma jovem de 14 anos, que inicia sua vida sexual bastante acalorada…
Com uma trama nada católica, ou católica demais para os dias atuais (com tantos escândalos sobre pedofilia), a obra descreve cenas de sexo – em detalhes que só uma pulga poderia testemunhar – que, com toda a razão, a igreja não gostaria que fossem divulgadas por aí nos dias atuais.
A obra, no entanto, não foi escrita hoje. Trata-se de um título inédito em português, considerado um clássico da pornografia vitoriana. Publicada em 1885, anonimamente, sua autoria foi atribuída a um advogado inglês, chamado Stanislas de Rhodes.
Segundo informações contidas no próprio livro, que traz em detalhes as condições de circulação e interdição da obra no período vitoriano (que reprimia fortemente a leitura de obras consideradas eróticas, embora tenha sido um período de fértil produção do gênero) o romance ocupou, “por suas peculiaridades e pela originalidade de sua narrativa”
(…) uma posição ímpar em meio ao grande volume das obras que constituem a literatura libertina vitoriana. A obra é narrada em primeira pessoa por uma pulga que, por seu íntimo contato com a pele humana, consegue testemunhar atos praticados no mais absoluto segredo. (…) elenca uma grande variedade de práticas sexuais consideradas tabu pela rígida sociedade vitoriana a partir de uma perspectiva anticlerical. Tais características conferiram grande popularidade ao romance, que teve várias reedições, ao menos três continuações apócrifas e acabou por se tornar um clássico da literatura libertina. A tradução de Francisco Innocêncio transpõe com maestria as descrições explícitas, o humor anticlerical e o refinamento do estilo vitoriano. (Editora Hedra)
O livro é o sexto título de uma série erótica da editora Hedra, que está montando um catálogo de literatura erótica e pornográfica em língua portuguesa, ainda pouco editada e conhecida pelo público brasileiro.
Os outros títulos da série erótica, para quem quiser acompanhar, são: Sacher-Masoch – A vênus das peles, Oscar Wilde – Teleny, ou o reverso da medalha , Adolfo Caminha – Bom crioulo, François de Sade – O corno de si próprio e outros contos , Swinburne – Flossie, a vênus de 15 anos.
Desejo uma excitante leitura para você também!