A fala de Tom Zé no programa do Jô nos faz abandonar (mesmo que a contragosto) os pré-conceitos musicais, muitas vezes baseados em gosto, preferência etc, e nos leva a refletir sobre o modo como os temas sobre sexualidade “podem” ou “não podem” circular em nossa sociedade.
Na entrevista, concedida ao programa do Jô, o músico se defende da crítica que sofreu ao defender a música e a letra do funk carioca “Tô ficando atoladinha”. Obviamente porque muitos defendem que é uma letra “pobre” , “depreciativa” etc…
O que me pergunto é se ele sofreu críticas por questões referentes ao aspecto musical (o que é ou não é música, por exemplo) ou por questões referentes ao tema da sexualidade (o que é “bonito” dizer ou não sobre sexo, por exemplo.)
A verdade é que a poesia e a música estiveram sempre repletas de erudição e belas palavras, assim como de nomes feios e palavrões, gostemos deles ou não (e sempre há quem goste mais de uma coisa que de outra).
O grande lance de “tô ficando atoladinha” é a possível identificação entre a letra e acontecimentos, sentimentos e sensações que fazem parte do cotidiano sexual da grande maioria dos brasileiros. Numa linguagem simples e repetitiva e, se considerarmos a análise do Tom Zé, musicalmente plurisemiótica, a “coisa” pega e pega todo mundo.
O mesmo acontece com músicas mais atuais, como o sucesso do cantor Michel Teló, cujo refrão “delícia, delícia, assim você me mata, ai se eu te pego!” domina cabeças e mentes nas “festinhas” brasileiras (de ricos e de pobres). Afinal, quem é que ainda não se surpreendeu no meio do dia repetindo algo como “delícia, delícia, assim você me mata!”?
Sem contar nas impagáveis oportunidades que tais músicas proporcionam quando você vê aquela irmã mais tímida, mãe ou tia dançando, animadíssima, uma “tô ficando atoladinha…” (depois de tomar “uns bons drinks”, é claro!). Que bela oportunidade !
A análise de muitas músicas nos permitiria dizer que, independente do estilo e gênero musical, música é música e se fala sobre sexualidade de forma franca, objetiva e sem floreios tanto melhor. Já citamos neste blog várias músicas consideradas “cult”, que falam de sexo e sexualidade e que, inclusive, falam de forma explícita e com forte carga sexual.
Enfim, se faz sentido para alguém então tá tudo bem! E, principalmente, se ajuda na reflexão sobre a sexualidade, sobre o desejo, sobre as diferentes possibilidades de ser feliz e se entregar, está melhor ainda.
Cada um com sua música! Dancemos, relaxemos e gozemos. “Façamos, vamos amar!”